quarta-feira, 23 de setembro de 2009

REPORTAGEM JORNAL "O POVO"

Música de vidro

O vidro é matéria-prima para o som do novo projeto da musicista Ré Campos. Acompanhada da Orquestra Vidros Mágicos, ela apresenta repertório autoral com percussão transparente

Alinne Rodrigues
alinnerodrigues@opovo.com.br

23 Set 2009 - 01h53min


No interior do Piauí, quando, toda noite, a cidade ficava sem luz, a menina Ré corria para brincar com os vagalumes. Seu passatempo favorito era prender os insetos brilhantes em potinhos de vidro, só para ficar vendo-os acendendo e apagando. Mulher feita, formada em Psicologia e especializada em musicoterapia, Ré Campos teve vontade de revisitar o tempo de criança. No lugar da madeira e da cabaça, que normalmente servem de matéria-prima para instrumentos de percussão, o vidro. Pegou as músicas que havia composto ao violão anos antes e decidiu lançá-las acompanhada de uma orquestra que tocasse superfícies transparentes.

Foram oito meses fabricando os instrumentos. "Conheci um rapaz, o Victor Portela, que faz casinhas de vidro, e perguntei se ele conseguiria copiar alguns instrumentos. Ele fez calimba, pau de chuva, agogô, vidrofone e ganzá", lembra. "Depois, procurei um vidraceiro e fiz mais um carrilhão e três cítaras, de espelho e vidro". E não quebra? "Quebra, mas a gente substitui", responde, despachada.

Hoje são oito as percussões na Orquestra Vidros Mágicos. ``Queria apresentar minhas músicas de forma inovadora. Nunca vi isso em canto nenhum. A sonoridade do vidro é diferente, o show é apresentado no escuro, iluminado só pelas luzes dos próprios instrumentos. Outro diferencial é que é uma orquestra, mas não é música instrumental``, orgulha-se a cantora.

Mas como fazer para simular os vagalumes da infância dentro dessas percussões transparentes? ``Eu mesma coloquei os circuitos das luzes, com um botão de liga e desliga em cada um. E olhe que não sou engenheira!``. De janeiro para cá, ela formou a Orquestra, ensaiou com mais 12 músicos e aproveitou o tempo para continuar enlouquecendo nos timbres diferentes do vidro. ``Onde tem vidro, eu vou. Loja de jardinagem, decoração. Até meu sobrinho arrancou uma luminária do jardim e me deu de presente escondido da mãe``, ri-se.

Nas mãos da musicista, tudo vira som. ``Tem instrumentos que eram um vaso, e foi só virar de cabeça para baixo e tocar, como o cogumelo de luz, que eu criei. Outro que inventei foi o rean, que tem som de triângulo, jam block e mais dois cubinhos com sons grave e agudo``, diz.

A estreia da Orquestra Vidros Mágicos de Ré Campos acontece hoje, em um local inusitado: o hotel Mareiro, na Beira Mar, dentro da programação da XXXII Jornada Cearense de Psiquiatria. O contato aconteceu pelo projeto de musicoterapia da psicóloga, o Som Saúde. No repertório, músicas compostas pela cantora, com arranjos de Ítalo Almeida e Marcello Santos, nos estilos mais variados. ``Tem balada, reggae, forró, samba, tango...``, adianta.


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